Registo: Dec 01, 2009 Mensagens: 701 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Sáb, 24 Nov 2012 - 22:24 Assunto: Dreams Of a Rebel - crónica
Dreams Of A Rebel.
O que é que te faz levantar da cadeira? O que é que faz o teu coração bater mais forte? O que é que te faz aumentar o folego?
Os transportes públicos têm, sem dúvida, algumas vantagens e uma delas é que, depois de regressar de um encontro daqueles que te deixam mais repleta, tens imenso tempo para apreciares as árvores a andarem no sentido contrário ao teu, os traços no alcatrão a desaparecerem, ouvires uma guitarra portuguesa com uma batucada incorporada e apreciares o sol a retirar-se, pensares sobre o que acabaste de viver de forma a vive-lo outra vez e matares saudades.
Voltava da Nazaré, adoro a vila. Rustica, irreverente, modestamente personalizada e pormenorizada.
As gaivotas que se ouvem até no mais oculto cubículo, as ondas com uma força e energia grandiosa e envolvente, a simplicidade dos surfistas locais, aquele farol maravilhosamente ímpar. Uma vila inteira que se move ao sabor das previsões, dos ventos, tal como eu. Uma vila que se orienta pelo oceano, é o seu mestre, o seu professor, a sua subsistência, a sua alma. Senti, enquanto lá estive, que pertencia ali. Fizeram-me sentir isso.
Fecho os olhos e é inevitável relembrar as peixeiras à beira da estrada, a abrirem e porem a secar os peixes, pescados pelos seus maridos e filhos. Uma “feira” um pouco macabra, mas ao mesmo tempo tão particular, a forma como os mexem, os amanham, as mãos carregadas e gordas envolvidas naquela imundície.
Assim que cheguei, de mochila às costas, fui quase como estuprada por milhentas senhoras que fazem do aluguer de quartos a jovens forasteiros o seu negócio de vida.
Não fui sozinha, e quanto às pessoas que foram ou ao porquê de termos ido, é difícil de me exprimir. Falar de pessoas é fácil, falar destas pessoas é difícil.
São como ensines, é preciso ter cuidado na escolha de palavras para não lhes diminuir o valor que tanto transportam. É formidável e inspirador sentir que não estamos sozinhos naquilo que achamos essencial, quando nos doamos a algo por pura preocupação pessoal, para enriquecermos como humanos, para nos aperfeiçoarmos. Estávamos todos ali por um objectivo comum, cada um tem a sua notabilidade, os seus diversos prazeres, as suas histórias peculiares, os seus percursos e origens, cada um com as suas inspirações e valores, mas pelo menos um era comum: a protecção e defesa do que amamos, neste caso, o oceano. É legítimo.
Apesar de que por vezes possa parecer bastante superficial, todas estas questões são bastante reflectidas por mim, interiormente. No entanto, não sinto que tenha de responder às questões morais de todas as multidões, quando não se mostram abertas a isso.
O mar e as ondas têm sido um ingrediente essencial, que influencia fortemente a minha vida. E eu tenho paixão pela vida.
Respondendo às perguntas que coloquei inicialmente, são estes elementos que me fazem erguer, que fazem o meu coração bater mais forte e me aumentam o folego.
Quando tenho oportunidade de sair por uns dias da rotina que é tão explicita desta sociedade actual e me refúgio em dias como estes, com personagens como estas, sinto-me totalmente apaixonada pelo local, pelo que faço, pela existência que levo. É único, gratificante, e um autêntico luxo viver com (e de) exemplos, termos a oportunidade de partilhar e estabelecer amizades com seres que no fundo, e discretamente, veneramos.
Num dos dias fizemos uma limpeza, na Praia do Norte (Nazaré) com a Surfrider Foundation. Estiveram entre 80 a 100 pessoas presentes voluntariamente, entre elas numerosas crianças. As novas gerações começam a ter noção de que qualquer lixo desprendido longe do mar acaba por lá ir parar e das consequências que advêm disso, começam a mexer-se e a passarem do parecer para o Ser.
Todos os presentes sabem que existe muito mais para fazer, que somos uma gota no oceano, mas que não podemos cometer o pesado erro de por pensarmos que fazemos pouco acabarmos por nada fazer. Infelizmente por vezes, várias e demasiadas vezes, é complicado encaixar esta filosofia noutros grupos.
Gosto de olhar para aquilo que faço e para as pessoas que me rodeiam, de ser surfista de corpo e alma, de ser uma pequena viajante com grandes sonhos, de sentir que dou o meu contributo, de me entregar ao que amo, de prometer a mim mesma, de me vencer.
Prometo daqui a um ano descer ondas pelo menos com o dobro do tamanho que desço, fazer no mínimo o dobro do que faço.
Vou encontrar a arte de o conseguir.
Estou a ir, ainda continuo à procura, vou prosseguir com o meu fogo aceso, a queimar e aquecer… consigo sentir que o estou a alcançar de verdade. _________________ Carol. Act locally, think globally.
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