Registo: May 12, 2003 Mensagens: 4719 Local/Origem: Belém
Colocada: Qua, 18 Jul 2012 - 17:58 Assunto:
Wazaaa 800€ com tudo incluído? A partir de Lisboa? Creio que isso é impossível pois não arranjas voos abaixo desse valor, nem mesmo nas low costs, tipo Condor e afins... _________________ Surf Lisbon - House & School<div>www.surflisbon.com</div><div>info@surflisbon.com</div>
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 18 Jul 2012 - 18:53 Assunto:
Copos escreveu:
Wazaaa 800€ com tudo incluído? A partir de Lisboa? Creio que isso é impossível pois não arranjas voos abaixo desse valor, nem mesmo nas low costs, tipo Condor e afins...
O wazaaa está-se a esquecer de mencionar que a partir dos emirados o resto da viagem é na base da remada...
Meus amigos, jantar é bem e quem é alfacinha que organize a cena... proponho uma tasca junto ao mar q consiga ficar á volta dos 10eur/pessoa... Umas bifanas e umas jécas e tá feito. Eu apareço e enquanto desempregado até aceito de bom grado que a crise afecta a todos e portanto nem me importo que não me paguem a patuscáda!!! De resto e se quiserem agendar aqui pela terrinha estão à vontade mas duvido que apareçam tantos qt aí por Lx...
Bem, contextualizando e para hoje...
'Viagens du surfi'
Já vou tendo algumas milhas no buxo e espero ainda meter algumas mais no quiver - embora não saiba quando pois os ventos não sopram de feição do ponto de vista '€urónico'.
Sempre me foi difícil explicar a quem me rodeia o porquê de relegar o subsídio de férias e 13º para estas andanças e cagar de alto num telemóvel melhor, na troca do carro ou num LCD à maneira prá sala. Hoje em dia já não existe essa benésse social pelo que pelo menos no meu caso, não havendo dinheiro tb não há vícios... se não posso, arreio. E vivo feliz na mesma acabando por ficarem vcs a ganhar pois as fotos do Fb acabam por pecár em termos qualitativos... LOL
A verdade é que considero que existam viagens e viagens.
Não menosprezando quem acredita que ir a São Torpes é quase uma surftrip ao alentejo profundo, é para mim uma questão de Atitude - desculpem-me a redundância... passo a explicar:
Primeiro o porquê. 'Porque mereço' é bem: trabalhei o ano todo e chegou a altura de torrar algum numa das coisas que me dá mais prazer.
Depois porque estou velho e cansado... farto de aturar crowd, água fria, trombas, correntes, agueiros, onshore e ondas mal formadas...
Outro que se aplica é o 'como'. Sou exigente e portanto exigo corais... mas não dos que me aleijem muito, antes dos que o fazem apenas se eu for burro com'ás portas ou tiver um azar extremo. Há destinos que vão para além da minha sapiência pelo que me releguei sempre aos outros... desde puto que se é para fazer mais ou menos ou mal feito prefiro nem começar... viajar, para mim, também entra neste contexto. Portanto o 'como' traduz-se no ir em grande, viver à grande e surfar maior/melhor ainda.
Tenho que estar bem mentalmente, com bom material e com o (ou algum) surf nos pés... andar a contar trocos ou não viver tudo o que o local em questão tem para me oferecer deixar-me-ia triste ou revoltado e como falo mal disto mas até gosto de por cá andar... prefiro ficar do que ir numa de remedeio.
A família sempre foi fácil de encaixar no jogo. No meu entender, surf e família 'do not mix' pois é-me impossível alhear completamente do mundo se uma grande percentagem dele estiver ali a apanhar uma seca brutal no areal ou no barco enquanto o pai/marido se diverte mais que uma criança. E viajar é isso... voltarmos a ser crianças. Sem grandes responsabilidades que não passem por muito mais que surfar, comer, dormir, surfar, beber, surfar e... surfar. Depois no fim é tudo uma questão de voltar a casa com o sentimento de dever cumprido... portanto acho que há tempo para tudo mesmo que por cá andemos só meia dúzia de dias como muitos apregoam. Levá-los só porque me vão chamar de profundo egoísta ou egocêntrico... pá não. Eu vou, surfo, divirto-me e volto feliz e disposto a amá-los ainda mais. A explicação é simples... também me sabe bem estar só com a minha prancha. E a verdade é que cá em casa todos compreendem o meu talvez singular raciocínio.
Mesmo que sem grandes pauladões ou aéreos mas com a mente cheia de ondas bem surfadas, conversas com novas gentes que não mais voltaremos a ver, cheiros, cores e paladares com os quais não nos cruzaremos mais... regresso feliz.
As saudades acabam por aparecer e quando voltamos há um novo olhar sobre o que abandonámos há poucas semanas ou dias... atentamos mais ao detalhe e ao pormenor e vivemos mais intensamente o dia-a-dia.
Depois e no sentido inverso no circuito saudosista, bebemos as fotos ou, como é costume no meu caso, os registos literários do dia-a-dia pelo outro lado do mundo... meses ou anos passam mas essas experiências ficam e são o que levamos connosco quando deixarmos de surfar.
É difícil explicar o que sentes quando dropas sobre uma bancada de coral apenas com calções e uns palmos de água por baixo... é rápido, há adrenalina, risco e aventura. É preciso alguma sorte cuja necessidade varia na relação indireta com a prática e repetição.
No fundo ilustra o que é viver... algo bastante diferente de estar vivo, expressão bastante perceptível por parte de quem surfa...
_________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Dom, 22 Jul 2012 - 20:59 Assunto: What if...????
'E se...'
'Nós os do surf' gastamos muito disto.
Não que gostemos pois até nos enche o ego sermos catalogados enquanto radicais e a coisa acabo por ficar assim em contra ciclo mas... a verdade é que a maior parte de nós pondera bastante muito do que se passa com os se’s em contexto de ondas.
Às vezes faz-me confusão tanto 'se' e quando ainda se estão a decidir se vão entrar ou não, já eu vou escada abaixo com o fato pela cintura.
Tenho também um compadre a quem há década alcunhei de Variações, pois qualquer que seja o pico e por muito que as ondas passem o excelente, o homem só está bem onde não está!
‘- e se em vez de… e se estivéssemos ali e não aqui??? É que daqui parece estar a partir uma esquerda bem melhor que esta onde estamos…‘
O fator aventura tende a deixar para trás muitos se’s que se nos vão deparando vida fora. Dizem os entendidos que a dita cuja é uma encruzilhada. Afirmo eu que se fores surfista então estás entalado até à quinta geração pois cada onda também o é e assim sendo há grandes chances de não dares com o caminho!
Começa logo com o entrar ou não.
Eu já só o faço quando sei que vou surfar na verdadeira ascensão da palavra. Às vezes engano-me e acabo por ser dropinado, por dropinar alguém ou por fazer menos ondas do que esperava, ou mesmo por me sentar em locais de demasiados decibéis – e Neptuno sabe o quanto aprecio o silêncio - e aí já não digo que surfei… digo que entrei.
Depois é o sítio… desatino com a malta que faz quilómetros em busca da musa perfeita e hipnotizante – ou de um harém delas - para depois ir enrolar-se com uma prima de 3ª descendência ou qualidade precisamente no 1º spot por onde passaram… só que 2h antes. Prefiro surfar, sair e partir em busca da irmã mais velha e experiente já com o bandulho cheio, mais não seja para não sofrer de ejaculação precoce. Certamente terei melhor performance desde que o cansaço acumulado não ultrapasse o razoável e, valendo o que vale pois quem o afirma sou eu, é de fato possível dar 2 ou 3 de qualidade mesmo em vésperas de completar 4 décadas de existência.
Também há a questão do equipamento. maior ou mais pequeno, fino ou largo, com 3 ou 4 quilhas. Está velha do uso ou do tempo e agora tem peso a mais e o shop está ressequido por causa do sol e assim sendo enrola-se-me muitas vezes nos pés.
Gosto particularmente de ver chegar gajos com o carro repleto de pranchas, surfarem ou pelo menos tentarem e abandonarem a praia enquanto confessam às suas caras metades, a quem nada mais restou que fotografar todos os demais dado que o seu herói teima em repetir sessão após sessão:
‘- e se eu tivesse entrado com a outra? aí é que tinha sido!!!’ – geralmente associo este tipo de raciocínio aos que dançam mal porque o chão está torto que coincidem geralmente com os que afirmam que a queca correu mal porque deambulavam por ali duas coisas penduradas que estorvavam com’ó caraças.
A questão climatérica também se põe e por vivermos em portugal – pelo menos por enquanto, isto no meu caso que estou em modo pré-emigrante … - temos imensos se’s que daqui advêm… a escolha do fato e a inerente confusão que aquele mm a mais ou a menos nos faz. o sol é fonte de vida e uma onda solarenga é bastante diferente da sombria e castanhônha. note-se não haver aqui vestígio de racismo nesta minha afirmação, apenas assim o é… quanto mais escura ela se nos depara, mais desconfortável ficamos. o sol torna tudo mais claro e brilhante. é nos dias de chuva que afirmamos… ‘é pá, se estivesse sol e apesar de estarem 4 metrões eu até lá ía…’ no entanto e nos dias de sol caso as ditas cujas estejam assim tão altivas, há sempre a ciática. Acreditem que resulta e ninguém estranha havendo até uma série de voluntários que certamente te acompanharão a uma qualquer clínica de fisioterapia ou mesmo a um endireita.
Se tudo o que referi - e algumas hipóteses relevantes continuam certamente por mencionar – acabar por dar certo, espera-te uma daquelas sessões memoráveis. caso contrário há sempre hipótese de considerares o rumo escolhido enquanto experiência positiva e de relevo para contares aos teus filhos e amigos…
‘- sim, rebentei os dentes todos, parti a prancha e não surfei nas semanas seguintes mas até tive alguma sorte pois podia ter sido pior… imagina lá se tivesse ficado em casa e um meteorito me tivesse entrado pela sala a dentro???’
E se eu tivesse ido antes prá direita? E se eu tivesse ficado com o dinheiro da viagem e não tivesse ido? E se o avião tivesse caído? E se o barco afundasse? E se... _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: May 12, 2003 Mensagens: 4719 Local/Origem: Belém
Colocada: Seg, 23 Jul 2012 - 8:41 Assunto:
Chickens? Honkeys? Qualquer uma delas... o que eu dava para estar lá agora! _________________ Surf Lisbon - House & School<div>www.surflisbon.com</div><div>info@surflisbon.com</div>
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Seg, 23 Jul 2012 - 22:52 Assunto:
Há imagens que valem por mil palavras...
Lembro-me perfeitamente desde dia, há quase 5 anos atrás... havia saído de Portugal fazia umas duas semanas e ainda faltava uma para regressar a casa. As saudades de casa já eram algumas mas ainda devorava tudo em meu redor... odores e cores, a temperatura e claro está, as ondas.
A noite estava escura como breu e volvia ao alojamento após mais uma sessão de skype num cyber cafe qualquer... enquanto descia a rua, envergando apenas uns calções que imitavam até de sobremaneira uma marca da moda, para além de uma tshirt da mesma categoria à tira-colo que ia sacudindo em jeito de auto flagêlo filipino tentando desesperadamente afastar a mosquitada dos restos de bronzeador da tarde já finda, recordo-me de olhar para um arvoredo.
Não havia iluminação e os ruídos que de lá provinham deixaram-me algo desconfortável. Estava no Oriente e os Deuses e Espíritos abundam por aqueles lados e nunca consegui até à data ver daqueles filmes das coisas do além ou do demo. Também pensei em primatas... e aí relaxei um pouco pois um macaquito até te pode roubar mas dificilmente te poderá linchar mas logo de súbito dirigi as minhas suposições para répteis. Cobras e lagartos deixam-me francamente em pânico... acena do sangue frio junto às escamas e à lingua bifurcada, ui.
Mas, já bem a tardóz do frondoso bosque das malícias, algumas dezenas de metros mais abaixo e para lá da escarpa, sentia que algo bem mais positivo estava prestes a chegar... o swell havia providenciado dias e dias de turismo local. Algo positivo pois o facto de dizermos... ' É pá, surfei ali e tal...' e depois não conhecer nada para além da praia e inerente lineup, é no mínimo algo curto.
Dormi algo ansioso e mal o sol nasceu, ouvi o melhor dos sons que podes escutar... desci ao areal e lá estavam. O prometido swell havia chegado e tudo agora fazia sentido. As ondas não eram iguais 'às minhas' e percebi então o que significava o termo 'juntar bancadas'.
É nestas alturas em que o chão treme porque a água se movimenta que olhas com mais atenção e inalas mais fundo que o costume. Talvez por haver um receio infundado que podes falhar e acabar por ali mesmo. Comecei a desenhar o trilho que iria percorrer sobre as bancadas até chegar junto da onda e o zoom da minha lente deu de caras com dois nativos que volviam de um amanhecer banal... tinham andado a mariscar para ir certamente vender o pescado a um restaurante local e ver assim compensado todo o trabalho. Simples. Restava-me ir percorrer o mesmo caminho que eles só que em sentido oposto e lançar-me à água.
Fui, e passadas algumas horas volvi. Ao contrário daqueles pescadores, não vendi nada a ninguém. Não tenho fotos desses momentos, apenas relatos e recordações. Corri alguns riscos e rabisquei mais alguns... ficou a memória de um deles, por acaso até no nosso best of:
Dia 13 – “Encontrei-te”
Começava até a perder a esperança de te conhecer,
Mas passadas q estão duas semanas dançámos os 2…
Quando cheguei ao pico apenas 5 pessoas te esperavam,
Mantive-me um pouco afastado e curti com uma mana tua,
Regressei feliz como só um Surfista sabe ser e parei mais sobre a bancada q os demais…
Eis q nem 5 minutos volvidos desatam todos a remar rumo ao horizonte,
Lá vinhas tu,
Remei com calma na tua direcção e passaste já de pé pelos q te tentaram alcançar,
Virei-te as costas e remei furiosamente para não te deixar escapar virgem e imaculada,
Passei rapidamente os pés para o deck e o offshore ergueu-te ainda mais,
Do alto dos teus 3 metros senti a imensidão do mundo e tornei-me pequeno,
Uma vertigem correu-me no estômago e as pernas tremeram-me enquanto mergulhei no teu dorso,
Eras curvilínea e esbelta como só uma onda balinesa o consegue ser,
Encetámos então a nossa dança,
Rápida, perigosa e excitante,
A adrenalina percorre-me o corpo em cada linha q te traço,
Um minuto torna-se uma eternidade,
O tempo congela e amamo-nos mutuamente,
O vento seca-nos a face e algures a meio caminho sinto pânico,
Quase horror,
Poderia classificar de respeito mas foi mesmo medo,
Impossível ignorar o coral q pisas,
Tenho fracções de segundo para uma decisão vital e resolvo aceder-te,
Deixo q me cubras com o teu espesso manto e deslizo pelas tuas entranhas,
Ouço o teu respirar ofegante enquanto procuro uma saída,
Nas sucessivas bancadas que sobrevoamos vão aparecendo outros que nos saúdam eufóricos de alegria,
Outros olham de soslaio transparecendo a mais podre das invejas,
Desejam a nossa morte, um descuido, uma desatenção q cause o desastre,
Seguimos os dois, tu e eu,
A prancha permanece serena sob os meus pés quando alcanço novamente a luz do dia,
Desenho novas linhas tornando a velocidade vertiginósa como jamais o tinha feito,
A cada bottom, a cada mudar de rail sinto o teu roncar estilhaçando vida a nossos pés,
Chegamos então ao fim da nossa dança
Do nosso tão aguardado e adiado bailado,
Pedes-me para te abandonar pois não podes fugir ao teu destino,
O mesmo q propôs q nos conhecêssemos,
Largo-te inundado de felicidade enquanto te desvaneces pouco + à frente abraçando o coral,
Sinto-me outro,
Alguém rejuvenescido,
Percorri meio mundo para me encontrar contigo,
E desesperava já por este nosso fugaz encontro,
Um misto de receio e paixão,
De risco, paz e aventura… alguma infidelidade até…
Agora volto para casa,
Para aqueles q tudo são para mim,
Aqueles de quem abdiquei para vir ter contigo,
Para quem regresso agora + completo pois carrego-te comigo,
Gravada com curvas e rasgadas na minha mente…
Foi bom ter-te conhecido,
A única e inigualável Onda Balinesa. _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 25 Jul 2012 - 14:52 Assunto:
'Gin Tónico'
Para mim pode ser um, e sem vento sff. Curto imenso a última parte pois confesso-te não ser grande apreciador de gin. Soa-me a very british e não curto o trave amargo. Assim como o wisky de onde nunca consegui retirar o paladar a malte. Acho que fica bem melhor pedir um gin tónico ou mesmo um wisky pois gajos como eu ficam sempre inibidos quando ao frequentarem bares de bem, pedem uma imperial. Normalmente servem-te uma heineken com um guardanapo personalizado sob a flute mas... acaba sempre por saber a cevada barata e a micadéla de solslaio do empregado arremessa-te quase sempre um:
- 'deixaram-te entrar aí com a tua amiga boazuda e ricalhaça mas nem uns míseros €€€ para uma bebida decente tens meu desgraçado...'
Acabo por ficar sempre a pensar se hei-de deixar uns trocos pois se der ele pensa que é uma bofetada de luva branca e se não o fizer estou a confirmar-lhe o raciocínio em epígrafe. também aqui prefiro a segunda parte.
Aquele ar a marezia peixífera deixa-me extasiado. Estive bem à vontade uns quase 5min a apreciá-la afastando-me daquele quebra-côco que ansiava por me liquidificar. É um cheiro que mistura um engôdo podre - e qual o que não o é perguntas-me tu... - ao do aroma perfumado de uma qualquer musa estupidamente bronzeada e com um bikini branco... e só a parte de baixo. E tipo fio dental, mas branco como referi. Dos seios opulentes nem te vou falar pois tou aqui para escrever algo do surf... o que se está a revelar extraordinariamente difícil nesta tarde de verão.
O mar abandonou por fim aquele período nojento de 5 ou 6 para abraçar uns generósos 10 ou 11seg. O resultado logo apareceu mais ainda aos saloios como eu.. a manhã nem estava solarenga quando fui apanhar os dejétos da minha cadela e apenas roçou algo do género quando hora e meia depois dei como despachadas as minhas 3 crias. Uma na ama e as outras duas na avó e aqui vou eu rumo à falésia. Pensamento maligno... se isto está assim na maré cheia, nem imagino os sacos na vazia:
Nota: este não é o pico principal como é óbvio... amigo mas nem tanto.
Que glass se havia instalado ao longo de uma direita firme e hirta que rolava por mais de 100mts sem dar tréguas a joelhos ou rótulas dos cotas podres como eu. Normalmente até deixo a toalha na areia e dispo-me lá por baixo pois sempre vou dando uma olhadéla nas divorciadas da minha faixa etária, com os seus novos implantes e nádegas recém recauchutadas. Quando o olhar é devolvido sinto algum género de recompensa pelas largas horas a quem me venho sujeitando em torno do ferro, da passadeira, da bike e da elíptica. Mas por norma é mais uma prima do gajo que me serviu a jóla uns parágrafos mais acima que me mira com desprezo ao som de um: 'Até estás com uns peitorais bem desenhados mas não passas de um engenheiro desempregado à procura de sustento...' - e aí por norma concentro-me no meu surf.
A não ser que o quebra côco esteja gigante como foi o caso de hoje... altura em que já sabes, caso contrário voltas lá acima e relês desta vez sem ser na diagonal.
Mas o que é certo é que montei as 4 quilhas e mudei a marca do wax. Porque as ondas têm estado com uma formação péssima e é difícil aceder-lhes - tal e qual as duas gajas deste epílogo, presumo... - e porque me convenceram a comprar uma merda qualquer ecológica que de wax não tinha nada passados 5min em meio salgado e fresco, respectivamente.
Cheguei lá dentro após alguns traves de prosa menos adocicados pelo caminho e o cenário estava épico pois armavam-se muros de água espelhados incríveis. A onda iniciava numa zona de agueiros medônha para logo se desenrolar num banco de areia bem desenhado e razo, quase que duplicando o tamanho e onde se tornava ôco e consequente.
Éramos 3 gajos e 2 putos. Deu para todos. A minha quad permitia-me arrancar um pouco mais atrás que os demais e o facto de estar com uma barba de semanas e com um desemprego de meses acaba talvez por me dar algum avanço nisto das prioridades...
Foi de facto muito bom. Amanhã o mar cai para metade e vamos procurar umas lajes para encaixar uns cilindros sem nos amassarmos muito.
Eu a a JS tb gostamos muito de vcs, abreijos e tudo de bom aí pelos escritórios nacionais ou nem porisso,
Rudas _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Sex, 03 Ago 2012 - 18:26 Assunto:
marianito escreveu:
TLTR
Ainda se fosse TLTL ainda poderia ser TLim TLão agora assim... o q raio é TLTR pá???? _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Lembro-me perfeitamente desde dia, há quase 5 anos atrás... havia saído de Portugal fazia umas duas semanas e ainda faltava uma para regressar a casa. As saudades de casa já eram algumas mas ainda devorava tudo em meu redor... odores e cores, a temperatura e claro está, as ondas.
A noite estava escura como breu e volvia ao alojamento após mais uma sessão de skype num cyber cafe qualquer... enquanto descia a rua, envergando apenas uns calções que imitavam até de sobremaneira uma marca da moda, para além de uma tshirt da mesma categoria à tira-colo que ia sacudindo em jeito de auto flagêlo filipino tentando desesperadamente afastar a mosquitada dos restos de bronzeador da tarde já finda, recordo-me de olhar para um arvoredo.
Não havia iluminação e os ruídos que de lá provinham deixaram-me algo desconfortável. Estava no Oriente e os Deuses e Espíritos abundam por aqueles lados e nunca consegui até à data ver daqueles filmes das coisas do além ou do demo. Também pensei em primatas... e aí relaxei um pouco pois um macaquito até te pode roubar mas dificilmente te poderá linchar mas logo de súbito dirigi as minhas suposições para répteis. Cobras e lagartos deixam-me francamente em pânico... acena do sangue frio junto às escamas e à lingua bifurcada, ui.
Mas, já bem a tardóz do frondoso bosque das malícias, algumas dezenas de metros mais abaixo e para lá da escarpa, sentia que algo bem mais positivo estava prestes a chegar... o swell havia providenciado dias e dias de turismo local. Algo positivo pois o facto de dizermos... ' É pá, surfei ali e tal...' e depois não conhecer nada para além da praia e inerente lineup, é no mínimo algo curto.
Dormi algo ansioso e mal o sol nasceu, ouvi o melhor dos sons que podes escutar... desci ao areal e lá estavam. O prometido swell havia chegado e tudo agora fazia sentido. As ondas não eram iguais 'às minhas' e percebi então o que significava o termo 'juntar bancadas'.
É nestas alturas em que o chão treme porque a água se movimenta que olhas com mais atenção e inalas mais fundo que o costume. Talvez por haver um receio infundado que podes falhar e acabar por ali mesmo. Comecei a desenhar o trilho que iria percorrer sobre as bancadas até chegar junto da onda e o zoom da minha lente deu de caras com dois nativos que volviam de um amanhecer banal... tinham andado a mariscar para ir certamente vender o pescado a um restaurante local e ver assim compensado todo o trabalho. Simples. Restava-me ir percorrer o mesmo caminho que eles só que em sentido oposto e lançar-me à água.
Fui, e passadas algumas horas volvi. Ao contrário daqueles pescadores, não vendi nada a ninguém. Não tenho fotos desses momentos, apenas relatos e recordações. Corri alguns riscos e rabisquei mais alguns... ficou a memória de um deles, por acaso até no nosso best of:
Dia 13 – “Encontrei-te”
Começava até a perder a esperança de te conhecer,
Mas passadas q estão duas semanas dançámos os 2…
Quando cheguei ao pico apenas 5 pessoas te esperavam,
Mantive-me um pouco afastado e curti com uma mana tua,
Regressei feliz como só um Surfista sabe ser e parei mais sobre a bancada q os demais…
Eis q nem 5 minutos volvidos desatam todos a remar rumo ao horizonte,
Lá vinhas tu,
Remei com calma na tua direcção e passaste já de pé pelos q te tentaram alcançar,
Virei-te as costas e remei furiosamente para não te deixar escapar virgem e imaculada,
Passei rapidamente os pés para o deck e o offshore ergueu-te ainda mais,
Do alto dos teus 3 metros senti a imensidão do mundo e tornei-me pequeno,
Uma vertigem correu-me no estômago e as pernas tremeram-me enquanto mergulhei no teu dorso,
Eras curvilínea e esbelta como só uma onda balinesa o consegue ser,
Encetámos então a nossa dança,
Rápida, perigosa e excitante,
A adrenalina percorre-me o corpo em cada linha q te traço,
Um minuto torna-se uma eternidade,
O tempo congela e amamo-nos mutuamente,
O vento seca-nos a face e algures a meio caminho sinto pânico,
Quase horror,
Poderia classificar de respeito mas foi mesmo medo,
Impossível ignorar o coral q pisas,
Tenho fracções de segundo para uma decisão vital e resolvo aceder-te,
Deixo q me cubras com o teu espesso manto e deslizo pelas tuas entranhas,
Ouço o teu respirar ofegante enquanto procuro uma saída,
Nas sucessivas bancadas que sobrevoamos vão aparecendo outros que nos saúdam eufóricos de alegria,
Outros olham de soslaio transparecendo a mais podre das invejas,
Desejam a nossa morte, um descuido, uma desatenção q cause o desastre,
Seguimos os dois, tu e eu,
A prancha permanece serena sob os meus pés quando alcanço novamente a luz do dia,
Desenho novas linhas tornando a velocidade vertiginósa como jamais o tinha feito,
A cada bottom, a cada mudar de rail sinto o teu roncar estilhaçando vida a nossos pés,
Chegamos então ao fim da nossa dança
Do nosso tão aguardado e adiado bailado,
Pedes-me para te abandonar pois não podes fugir ao teu destino,
O mesmo q propôs q nos conhecêssemos,
Largo-te inundado de felicidade enquanto te desvaneces pouco + à frente abraçando o coral,
Sinto-me outro,
Alguém rejuvenescido,
Percorri meio mundo para me encontrar contigo,
E desesperava já por este nosso fugaz encontro,
Um misto de receio e paixão,
De risco, paz e aventura… alguma infidelidade até…
Agora volto para casa,
Para aqueles q tudo são para mim,
Aqueles de quem abdiquei para vir ter contigo,
Para quem regresso agora + completo pois carrego-te comigo,
Gravada com curvas e rasgadas na minha mente…
Foi bom ter-te conhecido,
A única e inigualável Onda Balinesa.
(1ª foto) - Aquela baba ali era mel pra esquerda, com a carneirada toda a ir pó outside a tirar fotos com os olhos.
Citação:
Ainda se fosse TLTL ainda poderia ser TLim TLão agora assim... o q raio é TLTR pá????
Eu conheço é TGIF ou FPNSF agora essa não conheço _________________ Nothing is impossible it just costs more.
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Ter, 07 Ago 2012 - 18:16 Assunto: Biorritmo
Biorritmo
Não foi na wikipédia mas pode ler-se na net que 'O Biorritmo é uma teoria sem comprovação científica que diz que você pode calcular os dias bons e ruins na sua saúde.'
Na altura dos iogurtes com bífidos activus cujas mais valias para a flora intestinal estavam 'comprovadas cientificamente', saiu tb um anuncio em q vendiam qq coisa para subir o biorritmo.
E não sei por que carga de água mas fui atendendo a uns 'é pá isso é pq estás com o biorritmo em baixo...' ou então 'nããã... isso não é da cocaína, estás eufórico pq o teu biorritmo está lá em cima...' - e pelo menos neste último caso, escrevo-te isto sem ser por experiência própria.
Tive então que investigar o caso. Estudei a cena e concluí coisas.
Uma outra forma de lidares com isto é com a música dado que há a franca hipótese de os pós brancos não te fazerem um bem assim tão duradouro ao teu surf...
... e é com alguns decibéis mais ou menos harmoniósos ou audíveis q logramos alterar o nosso estado de espírito. De cima para baixo e vice versa...
No meu caso é mais numa de me incentivar.
Enquanto desempregado de longa duração - passaram entretanto os primeiros 6 meses - tornei-me seletivo. Só entro quando está bom. Tenho tempo e disponibilidade para surfar durante a semana, por norma quando está melhor e menos crowd. E qd está bom, são as ondas que puxam por mim, nem ligo o autorádio. Mas sendo Sta Cruzense, ou tenho gasóleo no carro ou são mais os dias q a coisa não ultrapassa a mediocricidade pelo q aí tenho q ter o biorritmo em altas ou não molho os côtos.
E no fim de semana passado senti-me assim, com o biorritmo lá em cima:
- Havia acabado de almoçar (bem) lá pelo Ocean Spirit, o mar estava um pouco quebrado mas formava-se um quebra côco glassado de direitas que os meus olhos teimavam em percorrer enquanto voltava ao estaminé instalado 3 praias mais a norte.
Pequenas ondas rebentavam ora em regime de fechadeira, ora em buracos transparentes e curvilíneos cobrindo metros e metros de secções sucessivas... pensei nos prós: podia ser q com a pica com q estava a sessão me permitisse brilhar em frente dos meus juniores. Os contras eram simples: o fato é um 2/2 de meia manga pelo q muito provavelmente acabaria por morrer de congestão...
Pelo meio do caminho tb havia a hipótese de não surfar um cú naquele dia e/ou de não apanhar onda nenhuma de jeito.
Entrei e a água roçava o morno pelo q um ou dois arrotos depois tranquilizei. Remei a tudo o q mexia e estava num daqueles dias de 'sitio certo à hora correta' pelo q enchi o bandulho... manobras q acerto uma a duas vezes por semestre intercaladas com fluidez, linha e velocidade. Já não surfava assim fazia tempo, mesmo com dias de mar bem melhor como havia estado faz duas semanas...
Surfei cerca de uma hora e tive inclusivé dor de burro mas a inveja dos demais acabou por levá-los a sairem da praia e juntarem-se-me. Saí feliz.
'É pai... foge, nem parecias tu pá!!! E aquele 360'??? Caraças!!! Era só água e c'a ganda velocidade!!! Olha, e como é que se faz aquela em que tu fizeste assim e depois ficaste assim e ...??? '
'É do biorritmo filho'... acabei por adormecer de seguida e dormir praticamente o resto da tarde - e desde aí nunca mais o vi.
Dizem q amanhã pára o vento... pode ser q. _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Ter, 07 Ago 2012 - 20:59 Assunto:
Favorito escreveu:
é sempre bom ler esses textos, que para mim servem de inspiração na 5a talvez irei poder surfar pela tua zona, visto que irei apanhar a minha irmã pequenita, em "Assenta" aqui e descansa
Gracias,
Espero que influenciem o teu biorritmo positivamente!!!
Amanhã e quinta devem ser os dias. Arrisco-te a dizer q não há swell para os picos de maré cheia funcionarem... mas na meia maré / vazia devem dar umas. O vento regressa na sexta feira, aproveita!!!
Qd vires um gajo de meia manga e a surfar de quad JS sou eu... mete conversa. Ah!!!! E não me trates por você... pode ser? A cara de ruim é mesmo só por causa do crowd típico dos dias pequenos de verão... LOLOLOL _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qui, 23 Ago 2012 - 17:47 Assunto:
'Chamamento de verão'
Ontem tive um... estas últimas semanas têm sido absurdas:
- água quente, picos mais ou menos regulares com esquerdas e direitas e aquele verde cristalino que nos enche a alma.
O surf tem estado à altura das condições apesar do crowd. Não têm havido hostilidades de monta e o localismo acaba por estar a nosso favor quando jogamos em casa e isto apesar de não usar por'aí além desta... 'nuance' que este nosso desporto das ondas por vezes tem.
Tenho surfado muito, horas sem fim. Às vezes bem, menos vezes mal. Tanto que me deu um peso na consciência e deixei para esta semana uma série de assuntos pendentes e cuja resolução me relegariam para bastantes horas frente ao monitor com algumas reuniões pelo meio...
Óbviamente que faço interrégnos não me vá cansar a vista... e eu que sou dos que sempre padeceram de miopia ainda por cima.
Passei pela praia antes de vir para o escritório e o mar estava jeitozo mas não bom. Uma aqui e outra acolá e a praia ainda livre de gente bem como os picos da práxe por onde venho deambulando ultimamente...
Concentrei-me e produzi de forma acentuada mas eis que algures pelo meio da tarde sucedeu o tal ... chamamento.
Em menos que nada premi save nas diversas aplicações abertas e fechei o portátil. O material estava na carrinha e foi aí que arrumei o saco. Menos de 5min volvidos e deambulava pelo parque de estacionamento mas... em vão. O mar estava lindo... pequeno mas perfeito e a maré enchia de forma abrupta avolumando as linhas que se formavam incessantemente e perfeitamente encadeadas.
Desisti e fui estacionar a casa de um amigo... vesti o fato - todo 2mm e apenas meia manga - pela cintura e sem chinelos fiz-me ao caminho que acabara de prefazer já em stress. Uma prancha, um fato e um shop... ainda ponderára entrar de calções mas tinha aquele feeling que a surfada iria perdurar por algumas horas.
Fui entrando e cumprimentando a malta. Uns acenavam contentes por me ver e partilhar... outros até acenaram com os cornos mas de felicidade a coisa escasseava.
Assim como a água que me afagava os braços e o rosto, estava com os pés quentes. As esquerdas estavam melhores que as direitas. O sol começava a apontar para o horizonte e queimava-me ainda mais a têz já morena. O crowd foi diminuindo e uma hora e pouco passados, já com o encher da maré ...
... entrou a Lisa. De bikini, remando firme e segura com aquele sorriso afável apenas suplantado pelo corpo épico. Deixei de olhar para o sol e as ondas afinal até nem estavam assim tão especiais... dois dedos de conversa pelo meio e uns bicos de pato absolutamente fabulásticos adocicavam-me o regresso ao outside sempre que a onda de um sucedia a do outro. Parecia que tinha sido chamado por alguém apenas para presenciar tais momentos...
Avisei-a da pele de galinha e fui óbviamente reprimido com um '- Hoje estás bastante atento, tu!!!' - acedi com um sorriso materiro e disse-lhe que devia de ser de já estar cansado de tanto surfar pelo q me tinha q distrair com algo mais. Saiu e rir à gargalhada e eu por lá fiquei prefazendo 4h de surf... hj óbviamente que não posso com uma gata pelo rabo. Mas o guru até acertou e o vento aumentou de sobremaneira.
O surf é de facto fabuloso, especialmente no verão...
_________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 12 Set 2012 - 22:25 Assunto: Kodak
Olá,
Depois de ler a 'estória' do SoB, deu-me uma vontade súbita de escrevinhar qq coisa aqui... não num dos tópicos das conspirações, no da política ou num dos milhares 'qual a prancha ideal para mim'. Julgo não me ter surgido tal desejo por inveja mas sim por uma infindável sucessão de acontecimentos... fica a dúvida mas será por algum destes motivos que inicio a prosa:
Ler é bom e escrever também... suspeito que haja por aqui uma série infindável de variáveis mas li isto algures e soou-me bem.
Dizem-me que falar e conversar será melhor mas, ultimamente venho passando ao lado disto... já toda a gente reparou aqui por casa e vou acedendo com um... 'qq dia a vontade regressa'.
Considero que existem 3 tipos de desempregados surfistas:
1) Os que fizeram por estar desempregados e andam felizes da vida por terem alcançado o ansejo.
2) Os que não queriam estar desempregados mas, que por acaso até estão e vai de gozar o pagóde até que se fartam.
3) Os que não queriam, estão e vai daí entram numa depressão profunda.
Eu enquadro-me no segundo caso e começo a estar farto.
Talvez não o estivesse se não sentisse estar em countdown permanente para um destino que não conheço de sobremaneira mas já o suficiente para desconfiar que me obrigará a mudar ainda mais o meu estilo de vida.
Quando vou a algum lado dou por mim a fazer contas ao gasóleo, às portagens, escolho restaurantes baratos e prescindo das sobremesas... detesto fazer contas - o que é engraçado sabendo que cursei engenharia - e talvez porisso goste tanto de surfar.
No entanto, a matemática impede-me de trocar a prancha e o fato apesar da primeira ter 1kg e 1" a mais que o desejável e o segundo me ter trocidado o pescoço e sovacos todo neste último mês... e a mesma aritmética faz-me ficar a olhar para o line-up contando cabeças, nº de ondas da série, nº de ondas surfadas e a respetiva divisão.
Demasiadas vezes opto por virar costas ou ficar pelo areal ou mesmo pelas espuminhas com os putos investindo o tempo que poderei não vir a ter em coisas que não as ondas.
Antes de ontem foi um desses dias.
Fui ao centro de formação dar as últimas 4h de desenho que ainda tinha para dar e encontrámo-nos pelo areal, a minha famélga e eu.
O mar estava estranho e confuso. Havia subido de forma abrupta e apesar da cor esmeralda e aspeto espelhado, não havia uma onda que quebrasse no mesmo sítio ou com o mesmo tamanho que a precedente. Dediquei-me por fim aos castelos de areia, que vêm sendo as construções onde me venho focando toda esta época balnear...
Voltámos cedo a casa pois a do meio iria começar a nova season de ballet... do russo, não do francês.
Para não vir sózinho num carro e o resto do maralhál noutro, veio comigo no carro e desculpei-me com um:
- queres ir ver o mar à Praia Azul com o pai?
Não estranhou pois já me conhece há cerca de 8 anos e acedeu-me.
Ao pararmos no miradouro, pareceu-me ter havido porali um toque de Midas. As linhas entravam longas e perfeitas direitas ao pointbreak... quebravam sós, de forma contínua e longe de tudo e todos. Os sets ultrapassavam com facilidade os 2 metros e a espuma assemelhava-se a um comboio prestes a descarrilar.
Fui a casa num rompante e troquei-as. A minha filha pela minha prancha... algo horrível para qualquer pai, algo banal para qualquer família de surfista. Todos se riram e brindaram-me com um:
-'diverte-te e sai antes de anoitecer'.
(...) _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Editado pela última vez por rudas em Qua, 12 Set 2012 - 22:40, num total de 1 vez
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 12 Set 2012 - 22:31 Assunto:
(...)
Pelo caminho liguei a um amigo pois já passava das 18h e no seguimento de 'um mal nunca vem só' tb sigo aquela do 'um mal a meias só traz metade da sequéla' - quer isto dizer que estava a antever levar com algumas das série pela cabeça e que assim sendo o peso do espumaço seria repartido.
Pura miaúfa derivada de alguma falta de confiança pois ‘quem não é bom para comer não é bom para trabalhar’ e, levando a cena à letra... começo a pensar que não tendo trabalho faz meses haverá algo de profundamente obsceno em apanhar mais ondas que os demais (não levando isto muito a sério na maior parte dos dias óbv/).
Certo é que estacionámos ao mesmo tempo ao som da pesada cavalaria que rumava às rochas junto do mesmo. O joão estava precisamente a correr praias em busca de um pico que lhe enchesse as medidas e estava prestes a desistir quando lhe telefonei. É um daqueles amigos estranhos mas dos de sempre.
Acaba por estar sempre presente quando é necessário mas ausente por longos períodos… mesmo quando partilhas com ele o mesmo espaço.
No meu caso, sempre apreciei o seu silêncio e desde há muito que respeito as longas temporadas que passa no seu mundo. É um mundo bastante semelhante a este onde agora também me venho refugiando.
Mas nesta passada segunda feira, encontrámo-nos no mesmo spot.
Vesti-me primeiro e lancei-me à água após contornar (mal) algumas lajes deixando parte das quilhas pelo caminho. contei que o remanescente fosse o suficiente. A 50 mts do pico já o joão me havia alcançado pois não havia sido tão trapalhão quanto este vosso forista. antes de lá chegarmos entrou uma série.
Remámos parede acima uma das primeiras ondas e senti aquela adrenalina que faz tempo me escapava, a de desconhecer se a seguir haveria um brinde capaz de nos mandar num retrocesso de algumas dezenas de metros em warp speed. seguimos com remada altiva e sentei-me ouvindo logo o recado: estás maluco? tens que alinhar com o telhado do living pá! aí estás demasiado dentro… olha que um shop partido aqui dá-te 15 minutos de natação!
Acedi corrigindo de imediato todos os dogmas que havia estabelecido acerca daquele local. No fundo, a minha falta de modéstia considerava-me um dos principais experts daquele pico. tantas vezes por ali havia surfado sózinho evitando multidões, principiantes e pessoal sem remada. E assim, do mundo dele para o meu, um paradigma importante:
- o living opera manda aqui.
O living opera foi a discoteca que marcou a minha adolescência.
Soa a clichée afirmar que 'já fui extremamente feliz' naquele espaço de diversão noturna mas, todos os da minha geração o foram ao som de pixies, talk talk ou peter murphy… o nevoeiro nicotineiro espalhava a luz proveniente das stroblights e as mesmas musas que se pavoneavam pelo areal enquanto entediávamos no marasmo do nadador-salvadorismo verão fora – algo a que todos os putos da aldeia que fossem pobres, soubessem nadar e queriam porque queriam umas calças da uniforme estavam por destino relegados - e por tantas vezes nos ignoravam, faziam questão de nos brindar com um:
- tu não és o nadador salvador da praia do pisão?
Ao que invariavelmente ripostávamos:
- pois, também te vi por lá mas não parecias tão gira de dia!
E depois sussurando ao ouvido claro está dado o contexto, bombardeávamos:
- também és de cá? (esta era a parte em que nos assumíamos enquanto saloios estúpidos prontos a ser enganados por uma alfacinha inteligente) - - como te chamas mesmo?
- não queres beber nada aqui com a maltinha do surf?
E estava uma vez mais lançado o móte… 3 a 4x por semana, todo o verão.
Ao ver aproximar a série seguinte, regojizei-me por ser amigo do joão.
Estávamos os 2 no sítio certo e nisto dos amigos de verdade, é sempre fácil decidir quem vai primeiro pois acontece quase sempre de forma tácita. Remei para os 2 montes de água que se foram avolumando à nossa frente e quando julguei pertinente voltei-me para a falésia e sprintei sob o vértice formado por ambos.
O drop é provavelmente das melhores sensações que tens nesta onda pois existe uma variação repentina de profundidades e quando a onda passa este local o tempo pára.
E é aqui que te sentes verdadeiramente feliz e livre. solto de compromissos familiares, de amizades, cores partidárias ou dinheiros. és tu e a água em movimento… tudo borbulha e estás radiante por correr no fio da navalha. o drop é relativamente fácil se venceres o medo. tens que largar o que te prende à vida e pairar por ali. entra-se com muita velocidade e os pés atingem o deck ainda antes do precipício.
Desce-se a coisa relativamente depressa mas com o tamanho que estava na segunda feira, os pés e os ombros encontram a zona do bottom antes do estômago que chega sempre passados breves instantes. E é depois que com calma e olhos esbugalhados desenhas aquela linha curva que primeiro segue plana para logo te fazer subir e subir para por fim mudares o rail e apontares o bico da prancha para a mesma direcção que há pouco de forma a repetires tudo nóvamente… embora desta vez já sem a sensação de vertigem que a força centrífuga se encarregou de absorver.
Depois fomos alternando. Um com o outro, as maiores com as ‘menos grandes’, maré e tempo adentro mas… sempre com o telhado do living ao alcance da vista.
(...) _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Editado pela última vez por rudas em Qua, 12 Set 2012 - 22:37, num total de 1 vez
Registo: Nov 17, 2003 Mensagens: 3240 Local/Origem: Santa Cruz
Colocada: Qua, 12 Set 2012 - 22:34 Assunto:
(...)
Surfámos muitas e não caí em nenhuma.
Levei claro está com uma série inteira e numa das séries de mortais encarpádos à retaguarda com prancha colada ao peito, lembrei-me do conforto que senti quando ía desmaiando no único acidente que tive nesta coisa das ‘lides do surf’.
Dizem-me que o afogamento é das mortes mais penósas que existem e eu acredito, salvo se acreditares que não te estás de facto a afogar mas que apenas encontraste um caminho para um mundo sem merdas de maior, injustiças, política ou desemprego… sempre este.
O sol foi-se escondendo e volvemos ao lagedo. O joão na onda da frente, eu na de trás, por mais de 100mts, serpenteando por entre rochas mais ou menos escondidas. Depois de algumas patética quedas sobre as rochas polidas por neptuno e verdejantes do limo, lográmos chegar ao estacionamento.
O pôr do sol já ía avançado e um casal de noivos pousava para um fotógrafo. De facto não entendi bem o conceito.
Percebi que fosse normal deixar a minha família em casa para surfar ondas de sonho e consequências.
Entendi que podemos ser livres e felizes apenas com uma prancha de surf e um amigo por perto.
Alcancei que temos forma de tornear medos e tornar a adrenalina uma fonte de alegria.
No entanto não questionei o par. Limitei-me a observá-los enquanto e como é hábito sempre que por ali surfo, tomava um duche todo nú.
Haveria por certo uma razão para que numa linda segunda feira à beira mar, estivessem fantasiados imobilizando-se sucessivamente para a posteridade rumo a uma qualquer moldura empoeirada.
Tão válida quanto a minha que hoje passadas que estão mais de 48h nada mais tenho que recordações e caractéres mais ou menos fantasiósos poraí espalhados à espera que alguém os leia… _________________ Mais vale uma onda só que mal surfada... ou então aprende connosco em www.casamarela.moonfruit.com
Colocada: Qua, 12 Set 2012 - 23:04 Assunto: Re: Kodak
rudas escreveu:
Depois de ler a 'estória' do SoB, deu-me uma vontade súbita de escrevinhar qq coisa aqui... (...) Julgo não me ter surgido tal desejo por inveja mas sim por uma infindável sucessão de acontecimentos
Se há por aqui alguém invejoso só posso ser eu, com a quantidade de prosa de qualidade que vens postando aos anos.
E que da minha parte só agradeço essa paciência.
Que o nivel de muitos postas que por aí andam tiram a pica a qualquer um de ler sequer o titulo, quanto mais o conteudo.
O que não é aqui o caso. Vai escrevendo que eu vou lendo... (e sei que mais uns quantos tb) _________________ Cumprimentos,
Sérgio B.
Neste fórum, você Não pode colocar mensagens novas Não pode responder a mensagens Não pode editar as suas mensagens Não pode remover as suas mensagens Você Não pode votar neste fórum